Hoje proponho um “brainstorm” coletivo com essa leitura. A Ciência reforça que
pesquisas confiáveis sobre tratamento devem seguir um método rígido chamado
Ensaio Clínico Randomizado (ECR) para diminuir a chance de erros na
interpretação dos resultados. Por exemplo, não basta dar um medicamento para
100 pessoas e ver se ele funciona ou não... é necessário dividir as 100 pessoas
em 2 grupos, por sorteio, de modo que metade vai tomar o tal medicamento e
metade toma placebo (substância que não faz efeito). Além disso, nem o médico
nem o paciente devem saber o que cada um está tomando (apenas uma terceira
pessoa sabe de tudo).
Admiro este método rigoroso, mas tenho minhas frustrações com ele. Como o zumbido
é cheio de variáveis, parece improvável que um ECR realmente mostre o caminho
para a cura. Assim, me atrevi a criar uma pesquisa alternativa e simples: encontrar
ex-sofredores de zumbido que se consideram CURADOS, ou seja, fazer o contrário
dos outros – aprender com quem JÁ SE CUROU!
Incluímos pessoas que tiveram zumbido diariamente por pelo menos 3 meses (de qualquer causa) e já estavam curados há pelo menos 6 meses. EXCLUÍMOS pessoas que não se incomodam com o zumbido, mas ainda o percebem em baixo volume.
Já entrevistamos os
primeiros 50 pacientes. Aqui vai o resumo dos resultados:
- a idade deles variou
de 14 a 89 anos de idade (média de 53,78 anos). Por algum motivo, 72% eram
mulheres (não sei explicar, mas adorei essa parte!). A duração do zumbido variou
de 3 meses a 40 anos (média de 5,83 anos, ou seja bem crônico!). Você pode
imaginar alguém com zumbido por 40 anos e depois se cura? Nenhum pesquisador
acreditaria nisso!
- o incômodo que
o zumbido causava era tão importante como o de qualquer pessoa. Na escala de 0
a 10 de incômodo, 80% davam nota de 7 a 10 para o zumbido. Vários tinham
alterações no sono, na concentração, no equilíbrio emocional ou na vida social.
- 58% tinham
zumbido do tipo tom puro (apito, cigarra, grilo etc) e sempre havia outros
sintomas junto, sejam eles do próprio sistema auditivo (perda auditiva, ouvido
tampado, intolerância a sons ou tontura), ou do sistema somatossensorial (dor de
cabeça, no pescoço ou na articulação temporomandibular) ou do sistema digestivo
(jejum prolongado, abuso de doces ou cafeína).
- 52% tinham audiometria
normal nas frequências de 250 a 8000Hz.
Agora pasmem... o
período que essas pessoas já estão curadas variou de 6 meses a 37 anos, com
média de quase 10 anos! Além disso, 60% fizeram apenas uma ou duas tentativas
de tratamento, o que sugere que existe um subtipo de zumbido que é FÁCIL de curar.
Isso é exatamente o que precisamos descobrir: qual é a chave que “abre a porta”
do sucesso.
Os tratamentos
que os próprios pacientes acharam responsáveis pela cura foram: medicação (42%),
técnicas de terapias manuais ((10%) e aparelhos auditivos convencionais (sem
gerador de som – 6%). Um número menor de pessoas atribuiu a cura à espiritualidade,
ao poder da mente, à placa oclusal, ao aconselhamento, à dieta, à mudança da cidade para o campo etc.
Agora vem o
brainstorm: esses casos se curaram com tratamentos que falharam em pesquisas do
tipo ECR (expliquei lá em cima, lembra?). Por isso, acho que a Ciência precisa urgentemente
REPENSAR a maneira de planejar e interpretar o ECR, evitando menosprezar
tratamentos que não superam o placebo quando aplicados para zumbido em geral. É
mais lógico entender que misturar um grupo de pessoas com zumbido pode ser uma
falha grave nas pesquisas, por isso, um tratamento que “falha” poderia
funcionar melhor se fosse direcionado para subgrupos específicos de zumbido.
Esse, SIM, me parece ser o segredo do sucesso!
Depois de entrevistar
esses pacientes, naturalmente passei a acreditar ainda mais na cura do zumbido.
Curar-se é como alcançar a linha de chegada, ou seja, percorrer 100% da jornada:
não é num único pulo, mas aos poucos!
CONCLUSÃO: o
estudo dos primeiros 50 pacientes que se curaram evidenciou que a cura do
zumbido pode ser obtida por meio de diferentes estratégias e por um período de
tempo longo e estável. Pertencer ao sexo feminino e ter um zumbido do tipo tom puro
com audiometria normal podem ser fatos relevantes, mas não necessários para a
cura.
Este trabalho foi
apresentado como convite para a Sessão Presidencial do XII International
Tinnitus Seminar e I World Congress of Tinnitus, que foi realizado de 22 a 24
de maio de 2017 em Varsóvia, Polônia.
Se você conhecer
alguém que tinha zumbido e não tem mais, escreva para contato@institutoganzsanchez.com.br. Obrigada!
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